segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A minha avó


De baixo de uma manta rota,
cheia de cor, exemplo de vida,
esconde o rosto heróico,
de quem vence o tempo e a moléstia
de forma teimosa. Pontos de personalidade.
Assoma os olhos, por de trás de uns óculos exemplares
(fita-cola na haste, riscos nas lentes e dedadas repetidas)
e nega o cansaço que se fez ouvir,
só segundos antes.
Grita um “coño” aportuguesado
garantindo que a voz, que outrora (en)cantava o mundo
faz finca-pé numa razão que até sabe que não tem.
Mas depois ri-se,
lembrando-me a simplicidade com que a olhava,
quando pegava os netos ao colo.
A minha avó sempre foi assim,
ensina-me, sem saber, que
se o tempo efemina a vida,
as lembranças tornam-na eterna.

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