segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Avó


Lembro-me de a ver,
de olhar terno e mãos trabalhadas,
sentada à lareira, a bordar a vida num pano.
Aguardava, todos os dias e noites,
ali sentada,
pelos pequenos fôlegos de vida, a quem chamava netos.
Os dias passavam,
a par do frio, que tão bem sabia enganar com o seu sorriso.
Já mal se lembrava das feridas de criança,
Ou dos lutos de mulher.
Mas nunca se esquecia do docinho preferido do filho,
ou dos pratos favoritos dos netos. E disso, eu lembro-me.
Lembro-me, também, de cheirar aquela terra quando chegava,
e de lhe bater à porta.
De braços abertos,
soltava um mal fingido controle “Então, estás bom?”.
Eu abraçava-a e sentia-a da mesma forma.
O peso da vida ficava para trás.
Depois, pensava com orgulho
“A força com que a vida te tirou muito,
Nada é comparada com a força que te faz viver.”.
Lembro-me de gritar “ó vó”, sem me aperceber
na passada que deixava em mim.
E lembrei-me de lhe dizer, agora,
- Avó, cheguei. Lembra-me de te mostrar
Como gosto de ti.

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